Inácio foi o sucessor de Pedro no governo da Igreja de Antioquia, entre os anos 68 e 107. Condenado às feras, foi conduzido a Roma e aí, no tempo do imperador Trajano, recebeu a gloriosa coroa do martírio, no ano 107, quando foi devorado por leões no Coliseu, por ordem do Imperador Romano.
Durante a viagem escreveu sete cartas a várias Igrejas, as chamadas Epístolas de Inácio, preservadas no Codex Hierosolymitanus, nas quais se refere, com profunda sabedoria e erudição, a Cristo, à organização da Igreja, aos princípios fundamentais da vida cristã, à devoção à Maria, ao culto dos cristãos, à Santíssima Trindade, etc. A sua memória era celebrada neste dia, já no século IV, em Antioquia.
Para celebrar tão ilustre exemplo de fé, trazemos um texto de sua autoria, intitulado “Sou trigo de Deus, e serei moído pelos dentes das feras”, o qual é um trecho de uma de suas cartas ao Romanos:
“Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que moro por Deus com alegria, desde que vós não me impeçais. Suplico-vos: não demonstreis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser alimento das feras; por elas pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, e serei triturado pelos dentes das feras para tornar-me o puro pão de Cristo. Rogai a Cristo por mim, para que por este meio me torne sacrifício para Deus.
Nem as delícias do mundo nem os reinos terrestres são vantagens para mim. Mais me aproveita morrer em Cristo Jesus do que imperar até os confins da terra. Procuro-o, a ele que morreu por nós; quero-o, a ele que por nossa causa ressuscitou. Meu nascimento está iminente. Perdoai-me, irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, eu, que tanto desejo ser de Deus. Não me entregueis ao mundo nem me fascineis com o que é material. Deixai-me contemplar a luz pura; quando lá chegar, serei homem. Concedei-me ser imitador da paixão de meu Deus. Se alguém o possui no coração, entenderá o que quero e terá compaixão de mim, sabendo quais os meus impedimentos.
O príncipe deste mundo deseja arrebatar-me e corromper meu amor para com Deus. Nenhum de vós, aí presentes, o ajude! Ponde-vos de meu lado, ou melhor, do lado de Deus. Não podeis dizer o nome de Jesus Cristo, enquanto cobiçais o mundo. Que a inveja não more em vós! Mesmo que eu em pessoa vos rogue, não me acrediteis; crede antes no que vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado, a matéria não me inflama, porque uma água viva e murmurante dentro de mim me diz em segredo: ‘Vem para o Pai’. Não sinto prazer com o alimento corruptível nem com os prazeres deste mundo. Quero o pão de Deus, a carne de Jesus Cristo, que nasceu da linhagem de Davi; e quero a bebida, o seu sangue, que é a caridade incorruptível.
Não quero mais viver segundo os homens. Isto acontecerá se vós quiserdes. Rogo-vos que o queirais para alcançardes também vós a misericórdia. Com poucas palavras dirijo-me a vós; acreditai em mim! Jesus Cristo vos manifestará que digo a verdade; ele, a boca verdadeira pela qual o Pai verdadeiramente falou. Pedi vós por mim, para que o consiga. Não por motivos carnais, mas segundo a vontade de Deus vos escrevi. Se for martirizado, vós me quisestes bem; se rejeitado, vós me odiastes.”
Da Carta aos romanos, de Santo Inácio, Bispo e Mártir (Cap. 4, 1-2; 6, 1-8, 3: Funk 1, 217-223, séc. I)
Santo mártir, sê propício no teu dia de esplendor, em que cinges a coroa, o troféu de vencedor.
Este dia sobre as trevas deste mundo te elevou, e, juiz e algoz vencendo, todo a Cristo te entregou.
Entre os anjos ora brilhas, testemunha inquebrantável, com as vestes que lavaste no teu sangue venerável.
Junto a Cristo, sê agora poderoso intercessor; ouça ele as nossas preces e perdoe ao pecador.
Desce a nós por um momento, de Jesus traze o perdão, e os que gemem sob o fardo grande alívio sentirão.
A Deus Pai, ao Filho Único e ao Espírito, a vitória. Deus te orna com coroa na mansão da sua glória.