São Bernardo de Claraval, rogai por nós!

É com muita alegria que a Santa Igreja celebra, hoje, a vida de um santo homem, Doutor da Igreja: São Bernardo de Claraval.

Nascido numa grande família nobre da Borgonha, no castelo de Fontaine-lès-Dijon, no ano de 1094, Bernardo foi o terceiro de sete filhos de Tescelin, o Vermelho (Tescelin Sorrel), e de Aleth de Montbard.

Com a idade de nove anos, é enviado para a Escola Canônica de Châtillon-sur-Seine, onde mostra um gosto particular pela literatura.

Em 1112, decide entrar na Abadia de Cister, fundada em 1098 por São Roberto de Molesme, e na qual Santo Estevão Harding havia acabado de ser eleito Abade. Convence vários amigos, irmãos e parentes a ingressarem com ele na vida monástica e chega assim com outros 30 candidatos para entrar na Abadia.

Em 1115, Estevão Harding envia o jovem à frente de um grupo de monges para fundar uma nova casa cisterciense no vale de Langres, em Ville-sous-la-Ferté. A fundação é chamada “Vale Claro”, ou Clairvaux (Claraval). Bernardo é nomeado Abade desta nova Abadia, e confirmado por Guilherme de Champeux, bispo de Châlons e célebre teólogo.

Os primórdios de Claraval são difíceis: a disciplina imposta por São Bernardo é bastante severa. Bernardo busca formação nas Sagradas Escrituras e nos Padres da Igreja. Ele tem uma predileção quase exclusiva pelo Cântico dos Cânticos e por Santo Agostinho. O livro e o autor correspondem às tendências da época.

Muitas pessoas afluem à nova abadia e Bernardo acaba de converter toda sua família: seu pai, Tescelin, e seus cinco irmãos tornam-se monges em Claraval. Sua irmã, Umbelina, toma igualmente o hábito no priorado de Jully-les-Nonnains.

A partir de 1118, novas casas são fundadas (a exemplo da Abadia Nossa Senhora de Fontenay), para evitar a superlotação de Claraval.

Em 1119, Bernardo faz parte do Capítulo Geral dos Cistercienses convocado por Estevão Harding, que dá sua forma definitiva à Ordem. A Carta da Caridade, que é então redigida, é confirmada pouco depois pelo Papa Calisto II.

É nesta época que Bernardo escreve suas primeiras obras, tratados e homilias e, sobretudo, uma Apologia, escrita a pedido de Guilherme de Saint-Thierry, que defende os beneditinos brancos (os cistercienses segundo a cor de seu hábito) contra os beneditinos negros (cluniacenses). Pedro, o Venerável, abade de Cluny, lhe responde amigavelmente, e apesar de suas diferenças ideológicas, os dois homens tornam-se amigos.

Envia igualmente numerosas cartas para incentivar à reforma o resto do clero, em particular os bispos. Sua carta ao Arcebispo de Sens, Henrique de Boisrogues, chamada mais tarde de De Officiis Episcoporum (Da conduta dos Bispos), é reveladora do importante papel dos monges no século XII, e das tensões entre o clero regular e secular.

Em 1128, Bernardo participa do concílio de Troyes, convocado pelo Papa Honório II e presidido por Matthieu d’Albano, legado do Papa. Bernardo é nomeado secretário do Concílio, mas ao mesmo tempo é contestado por uma parte do clero, que pensa que por ser monge, se intromete em coisas que não lhe concernem. Ele termina por se desculpar, mas o Concílio é fortemente influenciado por sua atuação. É durante este concílio que Bernardo consegue o reconhecimento para a Ordem do Templo, os Templários, cujos estatutos são delineados por ele mesmo.

Torna-se uma personalidade importante e respeitada na Cristandade; ele intervém em assuntos públicos, defende os direitos da Igreja contra os príncipes seculares e aconselha papas e reis.

Em 1130, depois da morte de Honório II, durante o cisma de Anacleto II, é a sua voz que faz com que Inocêncio II seja aceito.

Em 1132, ele consegue do Papa a independência de Claraval em relação a Cluny.

Nesse período de desenvolvimento das escolas urbanas, no qual os novos problemas são discutidos na forma de questões (quaestio), de argumentação e busca de uma conclusão (disputatio), São Bernardo é defensor de uma linha tradicionalista. Ele combate as posições de Abelardo, e as faz ser condenadas no Concílio de Sens, em 1140.

Em 1145, Claraval dá um Papa à Igreja, Eugênio III. Quando o reino de Jerusalém é ameaçado, Eugênio III, ele mesmo um cisterciense, pede a Bernardo que pregue a segunda cruzada em Vézelay, em 31 de março de 1146, e mais tarde em Spire. Ele o faz com tanto sucesso que o rei da França, Luís VII, o Jovem, e o imperador do Sacro Império, Conrado III, tomam eles mesmos a cruz.

No concílio de Reims, em 1148, ele faz uma acusação de heresia contra Gilbert de la Porreé, bispo de Poitiers. Não obtém grande sucesso e seu adversário conserva sua posição e prestígio. Cheio de zelo pela Ortodoxia, combate também as teses de Pierre de Bruys, de Arnaldo de Bréscia, e condena os excessos de Raul, um antigo monge de Claraval, que exige o massacre dos Judeus.

Neste mesmo ano, ele prega a cruzada em Hainaut e permanece em Mons, a capital dos condes de Hainaut.

São Bernardo fundou 72 mosteiros, espalhados por toda Europa: 35 na França, 14 na Espanha, 10 na Inglaterra e Irlanda, 6 em Flandres, 4 na Itália, 4 na Dinamarca, 2 na Suécia e 1 na Hungria, além de muitos outros que se filiaram à Ordem.

Em 1151, dois anos antes de sua morte, existem 500 abadias cistercienses. Havia 700 monges ligados a Claraval.

Bernardo morre em 20 de agosto de 1153, com 59 anos.

Foi canonizado em 18 de junho de 1174 por Alexandre III e declarado Doutor da Igreja por Pio VIII em 1830.

***

E, para celebrar tão grande santo, trazemos um pequeno texto (Sermão) de sua autoria, intitulado “Amo porque amo, amo para amar”. Ei-lo:

O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Amo porque amo, amo para amar. Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu princípio, volte à sua origem, mergulhe em sua fonte, sempre beba donde corre sem cessar. De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado, já que ama para ser amado; porque bem sabe que serão felizes pelo amor aqueles que o amarem.

O amor do Esposo, ou melhor, o Esposo-Amor somente procura a resposta do amor e a fidelidade. Seja permitido à amada corresponder ao amor! Por que a esposa e esposa do Amor não deveria amar? Por que não seria amado o Amor?

É justo que, renunciando a todos os outros sentimentos, única e totalmente se entregue ao amor, aquela que há de corresponder a ele, pagando amor com amor. Pois mesmo que se esgote toda no amor, que é isto diante da perene corrente do amor do outro? Certamente não corre com igual abundância o caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, do Criador e da criatura; há entre eles a mesma diferença que entre o sedento e a fonte.

E então? Desaparecerá por isto e se esvaziará de todo a promessa da desposada, o desejo que suspira, o ardor da que a ama, a confiança da que ousa, já que não pode de igual para igual correr com o gigante, rivalizar a doçura com o mel, a brandura com o cordeiro, a alvura com o lírio, a claridade com o sol, a caridade com aquele que é a caridade?Não. Mesmo amando menos, por ser menor, se a criatura amar com tudo o que é, haverá de dar tudo. Por esta razão, amar assim é unir-se em matrimônio, porque não pode amar deste modo e ser menos amada, de sorte que no consenso dos dois haja íntegro e perfeito casamento. A não ser que alguém duvide ser amado primeiro e muito mais pelo Verbo.

 

Dos Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, de São Bernardo, Abade e Doutor da Igreja (Sermo 83,4-6: Opera omnia, Edit. Cisterc. 2 [1958], 300-302, séc. XII)

São Bernardo, rogai por nós!

Sobre Alex C. Vasconcelos

Casado, 32 anos, pai de uma princesa, Advogado, Acólito na Paróquia do Divino Espírito Santo em Maceió/AL.
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